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| fotografia: Roberto Furtado |
Pescar de
prancha é algo que soa um tanto quanto estranho para quem desconhece a prática.
Até pouco tempo atrás, chamavamos de pesca de prancha, mas um amigo e
praticante dos mais mutucas (Canali), logo tratou de arrumar um nome. Nomeou a
nós mesmos, os praticantes, de Surfisherman (Surfisherman = surf + fishing +
praticante). Somos poucos, apesar do crescente número de adeptos, talvez pela
dificuldade da prática. A dificuldade não esta restrita a uma arte de conhecer
técnicas de pesca, nem de dominar técnicas de surf, mas na combinação das duas.
Detalhes percebidos na tentativa, e acredite eles existem em quantidade.
É isto aí mesmo, pescar de
prancha... é coisa de macho mesmo!
Bom pescador de prancha tem que
ter um pouco de tudo! Um pouco de persistência, um pouco de surfista, um pouco
de pescador, um pouco de valentia, um pouco de confiança, um pouco de
professor, um pouco de aluno, um pouco de amizade (ensinar os amigos), um pouco
de inteligência e de burrice, um pouco de noção das correntes marítimas, e
muito amor ao mar.
Depois de
alguns poucos dias sem ver o mar, já sinto falta do mesmo e deste
"esporte". Sento em uma poltrona de minha casa, apoio os braços sobre
os descansos e começo a lembrar. Visualizo a entrada na água como se fosse
imagem de horas atrás... sinto o gosto
da água salgada na boca! Calço os pés de pato, coloco a prancha em baixo do
braço, na outra mão seguro a garatéia... as vezes, entro na água aos pulos, as
vezes vagarosamente. Há quem possa confirmar... Eventualmente, urino na própria
roupa de borracha... e o que era frio de estalar, passa a ser quente como o
café! ehehehehehehheeheheh Inversamente proporcional! Quem diria isto?
Caminhando na água, sinto a temperatura fria, parece que não vou me acostumar,
sigo até a altura da cintura... e sem nenhum pouco de paciência de caminhar no
fundo esburacado do mar, logo vou subindo na prancha... bato os pés, por vezes
remo com o braço que sobra. A cada onda que passo, uma vitória! Cada onda, uma
emoção... um joelhinho sob a onda maior, uma vaca no tombo resulta numa bela
chafurdada, mas logo ultrapasso a arrebentação. Vejo uma imensidão de águas
revoltas ou calmas, depende do dia. Uma sensação de infinito, longe apenas 250 metros da beira da
praia. Escolho um lugar pra largar a isca, e desço-a devagar, assim sondando a
profundidade do local. Tchê, algumas vezes... mais de cinco metros! Estranha
capacidade da corrente, de criar "valetas" sobre o arenoso fundo do
mar.
O desejo de
chegar ao objetivo, e uma alegria de ter vencido a água... pelo menos por
enquanto. Para sair... encosto com cautela na arrebentação, e espero. Escolho a
melhor posição, onda e nível do mar... e pego a onda sentido a força do oceano.
Correndo com a água que gira por cima da própria água, surgem milhões de coisas
em minha mente. Parece um longo tempo, mas não passam de poucos segundos. Já na
meia água, junto a prancha e os pés de pato. Fim da atitude física, e começo da
espera... um jogo mental. Será que o peixe vai bater? Era o local correto?
Assim somos... pacienciosos, vitoriosos, amigos, sonhadores... meros
sonhadores, humildes, felizes na água, tristes em terra firme. Alegres na
presença dos amigos e do mar... o infinito nos aguarda! Santa felicidade de
existir..
obs: este texto foi produzido e
publicado em diversos canais de pesca nos por volta de 2003. Hoje, os
prancheiros são vários no RS, e no mundo, mas poucos compreendem o verdadeiro
significado da pesca com prancha. Ser prancheiro é ter um algo mais que somente
os pescadores de alma compreendem. Imagem meramente ilustrativa.
Roberto Furtado

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