sábado, 15 de fevereiro de 2014

A Viola e o fim dos tempos...

Rhinobatos horkelli, Muller e Henle, 1841.
Teve um período de minha história pesqueira em que eu me contentava com papaterras. Posso dizer que até nos dias de hoje o papaterra é um dos meus preferidos, depois dos burriquetes, que são igualmente vigorosos porém de porte maior. Contudo, durante um bom período eu pesquei a viola sem imaginar que ela seria ameaçada pela pesca predatória. Por muitas vezes, em locais fartos de peixes, juntamente com amigos, vi parelhas de barcos, arrastos a uma distância inferior a permitida. Evidentemente, se pescávamos este peixe a 150 metros, ou muito menos, da beira da praia, estavam também sendo capturadas a uma distância onde os barcos realizavam a pesca destrutiva e predatória. Algumas vezes vi dezenas de cabeças deste peixe na beira da praia. Já vi também peixes inteiros, que haviam morrido horas antes. A certeza é de que uma parte dos peixes pescados pelos barcos correspondia também a um número de peixes feridos que vinham morrer horas depois. O sistema de pesca com rede é a forma mais cruel e irresponsável de capturar peixes. Principalmente se tratando de um tipo qualquer que impede a devolução com vida de animais como lobos-marinhos, tartarugas, toninhas e outras espécies protegidas na atualidade, tais como a viola. Um dia, sei que todos nós, cidadãos, pescadores amadores e profissionais, também funcionários públicos, inclusive do IBAMA, iremos nos arrepender desta falha tentativa de proteger animais ameaçados de extinção. Até me recordo de uma oportunidade, quando eu e um amigo, denunciamos uma embarcação através do disque denúncia e ao fim do contato telefônico com a atendente do IBAMA ela nos disse: "Senhor, temos 30 dias para apurar os fatos!"
Naquele momento ficava garantida a ineficiência da Instituição Federal que deveria proteger a fauna e flora brasileira, as riquezas do país. 
Continuo pescando... eu pesco para me divertir e para comer o pescado junto da família, já que a qualidade do peixe que chega as mesas brasileiras é praticamente um refugo do que não é exportado. Isto ninguém pode evitar... comprar peixe no Brasil é um desafio, mais um! Nos meses de novembro, dezembro e janeiro, eventualmente capturo alguma viola, solto-as. Puxo para fora da água, retiro o anzol, passo a mão no peixe como se estivesse me despedindo e devolvo na água. Fico observando o peixe retomar sua casa em busca do seu ciclo necessário ao planeta. Não posso evitar que o peixe morda meu anzol, estou pescando outras espécies, mas eu posso garantir a liberdade ao peixe. Fiz isto com dezenas, talvez centenas de peixes, incluindo corvinas,  burriquetes, papaterras, arraias, peixes de tamanhos variados. Posso dizer que a sensação de avaliar o correto do momento e completar a devolução do peixe as águas é tão gratificante quanto a própria captura. Se nós tivéssemos a cultura de pescar e soltar a partir do terceiro peixe, a mero exemplo, hoje não estaríamos com tantas espécies ameaçadas. E posso garantir a quem quiser... a responsabilidade deste final é de todos. Seja ela da ação consciente ou da ignorância, ela pertence a toda sociedade como responsabilidade e culpa. Quantas vezes vi carne de viola sendo vendida em restaurantes e supermercados? Após a proibição em 2004, no ano passado, ou seja, quase 10 anos de proibição, encontrei por cerca de 5 vezes o peixe proibido. Na pergunta que fiz a um dono do restaurante, disse-me ele: Eu compro viola importada, comercialização protegida pela lei. É o que eles dizem... eles sempre tem uma resposta para justificar a morte de peixes protegidos. Saiba vc que a viola é um peixe nosso, exclusivo da costa do Brasil e Uruguai, e a maior incidência deste peixe nas águas brasileiras é no litoral gaúcho. Nossos peixes estão sendo exterminados e as pessoas não sabem... pq o governo não quer, a mídia ignora, as pessoas não querem deixar de comer este peixe, e a indústria do pescado não quer "largar o osso"! Isto tudo fará mais sentido brevemente, dentro de alguns anos, quando a viola praticamente estiver extinta, assim como o cação fiuza, tal bico doce (sem dentes), que hoje é praticamente uma lenda! Seja bem vindo ao início do fim...

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